Do IP ao conteúdo
Um
pesquisador brasileiro faz parte de um grupo que está propondo mudar o modelo
de segurança da internet.
"O que
estamos propondo é que a segurança deixe de ser baseada no endereço de IP
[Internet Protocol] e passe a ser balizada pelo conteúdo," explica Walter
Wong, que dividiu seu trabalho entre a Unicamp e a Universidade de Helsinque,
na Finlândia.
Segundo
Walter, quando a internet foi criada, seus idealizadores não podiam imaginar no
que ela se transformaria.
A segurança
não era exatamente a principal preocupação na época, dado que a proposta
inicial era ligar fisicamente pontos distantes para promover a transferência de
bits - e esses bits eram basicamente textos ou números associados a
experimentos científicos.
Com o passar
do tempo, porém, as pessoas passaram a utilizar a rede para uma série de
atividades, como gerar e consumir conteúdos, fazer compras, pagar contas,
assistir filmes etc.
"Ou
seja, hoje temos uma nave espacial funcionando sobre uma base simples",
compara Walter.
Servidores móveis
O grande
problema relativo à segurança da Web, segundo ele, é que o seu princípio está
baseado no IP, que é representado por um número. Este, além de identificar o
endereço, identifica também o usuário ou provedor.
É aí que
surge um imbróglio, cita o engenheiro da computação: "Quando a internet
foi criada, isso fazia sentido, porque as máquinas eram imensas e dificilmente
seriam transferidas de lugar. Hoje, porém, nós temos notebooks, celulares e
tablets que nos proporcionam mobilidade. Ou seja, não é razoável identificar um
host (servidor de informações) pelo seu endereço físico, visto que ele pode se
deslocar para qualquer lugar do mundo", explica.
Ademais,
continua Walter, quando uma pessoa se conecta à rede para fazer uma compra num
determinado site, por exemplo, ela não faz ideia de onde o provedor dessa
empresa está de fato localizado.
"Trata-se
de uma relação de confiança. Entretanto, essa confiança poderia ser ampliada se
a arquitetura da internet permitisse basear a segurança no conteúdo e não no
endereço IP", reforça.
Para chegar
à sua proposta, Walter teve que trabalhar com o desenvolvimento de softwares e
algoritmos específicos.
A ideia
central foi estabelecer um mecanismo de autenticação de dados eficiente e
explícito, de forma independente do host de onde os conteúdos foram obtidos.
Rede orientada a conteúdos
Em termos
simples, no novo modelo proposto por Walter, a rede física também passa a ser
orientada a conteúdos.
Assim, a
pessoa que se conectar à internet para, por exemplo, assistir um vídeo no
Youtube, não precisará mais se preocupar se o servidor está nos Estados Unidos,
na China ou Brasil.
"As
credenciais estarão vinculadas ao próprio conteúdo. Nesse caso, o usuário
poderá até mesmo baixar algo vindo de um servidor inseguro ou suspeito, pois
terá certeza de
que o conteúdo é original e seguro", afirma o engenheiro
da computação.
Internet do futuro
Atualmente,
informa Walter, diversos grupos estão envolvidos em pesquisas relacionadas à
"Internet do Futuro".
A Internet
está se auto-organizando em um metacomputador global
Os estudos
nessa área estão divididos em basicamente duas correntes.
Uma delas
trabalha com a perspectiva da evolução da Internet atual, que incorporaria as
"mutações" necessárias para que a rede mundial se adapte aos novos
tempos.
A outra
pretende partir do zero para propor uma nova arquitetura para a rede. É nesta
que o trabalho de Walter está inserido.
No Brasil,
além da Unicamp, há grupos de São Paulo e do Rio de Janeiro envolvidos com o
tema.
Questionado
sobre como imagina que será a migração da internet do presente para a internet
do futuro, o pesquisador diz acreditar que esse processo não deverá ser
traumático, mas também não será absolutamente tranquilo.
Ele lembra
que essa passagem dependerá de diversos fatores, entre eles o econômico e o
político: "Do ponto de vista do usuário comum, porém, não deve haver maiores
problemas. Na prática, isso não afetará a vida dele, a não ser lhe
proporcionando mais segurança para suas atividades virtuais".
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